sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

[espera poética] A véspera

s4br 2006©

Staroměstské náměstí, Praga, CZE

A espera, o ainda não, o antes,
Consumido pela expectativa, desconcentro-me.
Insônia, inquietude, tensão,
Fazem de mim seu refém, sua vítima.

A véspera, o que ainda está por vir,
Corroído pela incerteza, contraio-me.
Solidão, melancolia, apreensão,
Fazem de mim prisioneiro, cativo.

As horas transcorrem de forma irregular,
Clepsidras e ampulhetas traem-me os sentidos,
O que vejo, o que ouço, eis que se transforma,
Espaço e tempo confundem-se, rompo tal barreira.

Fatos desapercebidos, frases ignóbeis, atos falhos,
Passado e futuro agora desvelam-se, vívidos
Cristalinos, brilhantes, não há mais o que temer:
Lúcido, recebo o presente, de braços abertos!

quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

[happy hour poético] A meus amigos indiscretos.

s4br 2006©

Meio cheio ou meio vazio? Você decide. (Cerveja Staropramen em Praga)

PASSOS apressados, frenéticos,
Neurose sazonal, transe coletivo,
Ruas e avenidas tomadas, tráfego intenso,
O atraso de um ano todo a desaguar num só dia.

Segue a tensão, filas e mais filas,
Em mesas esnobes, amigos secretos, ocultos,
Revelam-se inimigos declarados, vorazes,
Levantam-se copos e taças à falsidade e à mentira.

Deixe-me fora disso, por favor!
Preciso de meus amigos indiscretos,
Únicos e verdadeiros, ébrios ou não,
Pois onde quer que estejamos, seremos!

A ouvir música, a brindar com alegria,
Nada de tapinhas nas costas ou bajulações,
Somente a satisfação de sua fraternal presença,
Pois em bando, somos crianças crescidas, felizes.

terça-feira, 19 de dezembro de 2006

[SMS poético] Mais um dia...

s4br 2006©

Da janela do trem, vejo...

MAIS um dia.
Mas que não será
Um dia a mais, em vão.
Pois tenho em mim
A tua lembrança.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

[exercício poético] Kono porutogarugôhaikai o kakimashita...

s4br 2006©

Národní muzeum, Praga, CZE

O novamente! Eis mais alguns 'haikai', compostos em diferentes momentos e situações.

Para conhecer um pouco mais sobre o haikai, segue referência ao [ Site de Literatura ], regido pela Prof.ª Valéria, de Belo Horizonte. Confiram as demais seções do sítio, deveras informativo e interessante.

Espero que seja do agrado.

Forte abraço a todos!


Vivos (ao ouvir José Cid e o Quarteto 1111)
Cantamos pessoas vivas,
Celebramos o ser,
Com sons, palavras e versos.

Ciclo
Semente e broto novo,
Nascer, viver, morrer,
Eterno ciclo natural.

Alimento
Combustível, a mover-me,
Recarregar-me, pois,
Renovado, enfim, renasço.

Bebida
Se só em líquidos,
Liquidando-me estou,
Sequem a fonte, por favor!

Cefaleia
Dor latente e aguda tenho,
A cabeça dói, dói,
Pra que fui beber de novo?

Minha Lua
Deitado, contemplo a Lua,
Penso, seria de
Queijo ou pedra? Não importa...

Silêncio
Ouvi sons os mais diversos,
De manhã, à noite,
Mas agora, é só silêncio...

quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

[poesia meteorológica?] Cheiro de chuva

s4br 2006©

Václavské námestí, Praga, CZE

CHEIRO de chuva, tempestade à vista,
Nuvens negras formam-se apressadas,
Ventos sopram, anunciam a tormenta,
Trazem de longe, vapor d'água e fúria!

Frio e calor mesclados, clima tropical,
Escorre o suor pela testa, cansaço,
Umidade relativa do ar em alta,
Incômodo e alívio no fim de tarde urbano.

E de camarote, onde quer que estejamos,
Alguns, do alto de prédios e arranha-céus,
Outros de dentro de ônibus e carros,
Apurado, paro sob velhos toldos rasgados,

Assistimos a um espetáculo por vezes ignorado:
A água a cumprir sua sina, seu ciclo natural,
A ensinar que mesmo que o bueiro pareça ser o fim,
Na verdade, nosso destino é céu e o mar, infinitos.

terça-feira, 12 de dezembro de 2006

[indignação poética] De dentro de um ônibus, eu vejo...

s4br 2006©

E que horas são?

COMBUSTÍVEIS fósseis, queima incompleta,
Cigarros acesos, fumaça ao alto, inconsequentes,
Ricos, pobres, burgueses e mendigos,
Terra de ninguém, mundo cão. E quem se importa?

Mentes indóceis, vida desperdiçada,
Armas apontadas, mãos ao alto, impiedosas,
Nobres, plebeus, senhores e vassalos,
Terra abandonada, mundo frio. E a quem interessa?

Meros recursos, sem distinção de credo e origem,
Presos à terra, vínculo compulsório, perpétuo,
Vivemos a nova idade média, feudalismo moderno,
Sob trevas de concreto e aço, asfalto e fuligem,

Chuva ácida, corrosiva, destrói mentes e pensamentos,
Brutalizados, perdemos a noção de espaço e tempo,
Entregues à fúria, à bioquímica e a atos reflexos,
Meros seres existentes, irracionais, não mais viventes.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

[inspiração imediata] P'ra que saber?

s4br 2006©

Perdidos em Karlův Most, Praga, CZE

P'RA que saber onde estou?
Queria mesmo era perder-me em ti...
Pois em ti perdido, encontro-me,
Situo-me, enfim, dentro deste vasto mundo.

P'ra que saber onde estás?
Queria mesmo era encontrar-te em mim...
Pois em mim encontrada, perde-te,
Situa-te, enfim, fora desse vasto mundo.

P'ra que saber onde estamos?
Queria mesmo era fugir daqui, juntos...
Pois longe daqui, somos enfim, nós mesmos.

Sem olhares vigilantes, censuras,
Sem palavras proibitivas, desconfianças,
Só e somente só, em nossas verdades...

quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

[crônica poética] Libertação

s4br 2006©

Václavské námestí, Praga, CZE

PROCLAMO! Sim, hoje é dia de libertação!
Tirem-me do 'insul-film', desse vidro laminado!
Permitam que eu veja e que me vejam!
Quero sentir o vento, nada de ar condicionado!

Os malabares naquela esquina não me divertem,
Ver miséria e privação no fim da rua não me entretém.
Se o ser humano é o maior espetáculo da Terra,
Pra onde foi o 'show' neste ano que se encerra?

Encosto o carro. Sob tensão, fujo.
Fujo da pressa. Sem pressão, respiro.
Respiro fundo. Mais calmo, observo.
Observo com atenção. Agora compreendo.

Compreendo que se há uma saída
Desta jaula urbana, opressora e fria,
A saída é libertar-se do pavor, da angústia,
É não temer falar de amor, falar de vida!

segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

[reflections of passion] Um para o outro...

s4br 2006©

Uma rosa, um jardim...

SORRISOS contidos, timidez.
Olhares profundos, sinceridade.
(re)Encontro inusitado, celebração.

Gestos tão simples e verdadeiros,
De pequenas e suaves mãos a mim encantam.
Como resistir? Tento, reluto, não há meios!

Cada palavra tua é musical, melódica,
Quanto mais a ouço, mais a quero conhecer:
Conte-me e todo o meu também contarei.

Estórias de nossa história, lugares e fatos,
O mesmo tempo que nos separou, agora
Serve de motivo para animada conversa.

Um bocejo seu, já é tarde e o sono surge,
Tão logo a acaricio, ofereço colo e atenção:
Sonho com beijos, abraços, suspiros...

Mas é hora de partir e não quero crer,
À medida que nos afastamos, sinto-me triste:
A primeira vez que nos vemos não há de ser a última!

Hoje, porém, perdido em mim mesmo e
Em vastos pensamentos, pergunto-me:
Quem e quando seremos um para o outro?