segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

[#67] [Breve Antologia - Parte 1] Textos perdidos num telefone celular...

s4br 2008©
Milford in America: Bikers waiting for the green light in Santa Monica, California.
Milford in America: Bikers waiting for the green light in Santa Monica, California.

De fato, nem sempre se pode estar frente a um computador (os mais tradicionais, a uma máquina de escrever), menos ainda ter papel e caneta em mãos, quando bate aquela inspiração, quando vem aquela ideia voraz, sedenta por ser transformada em texto.

Confesso que sofro constantemente deste mal, pois na maioria das vezes em que tais 'ideias vorazes' surgem é quando estou num saguão de aeroporto, aflito, frente ao portão de embarque, sempre partindo de algum lugar, nunca chegando a lugar algum.

Os poucos minutos que sobram, o cartão de embarque meio amassado, a mochila pesando nas costas (utilizo um laptop que de tão pesado que é, mais se parece uma 'Olivetti Lettera 82'!), a sacola pesada das compras do 'Duty Free', a tensão de saber se o avião decola logo ou não.

Neste conturbado cenário, talvez para tentar fugir da tensão do momento, talvez para sentir o tempo passar menos maçante, passo escrever em meu telefone celular. Letras pequenas, dicionário interno em outro idioma, tudo conspira para que não saia um texto minimamente legível.

Aquela voz distorcida pelos alto-falantes, da qual se compreende somente o número do voo e que ainda não é minha vez de subir à aeronave, corta-me o raciocínio, faz com que as palavras fujam, escapem por entre os ocupados dedos sobre o pequeno aparelho telefônico móvel.

Tento, não desisto, busco o verbete que faltava para compor a frase, o verso. Em vão, pois à mente só me vem 'avião', 'voar', 'sumir', 'desaparecer', 'tire-me daqui', 'por que não escolhi outra profissão', 'abaixe o volume do seu MP3, por favor', 'segure a criança, antes que ela se machuque', etc, etc...

Entretanto, em pequenos arquivos de texto, habilmente digitados e transferidos via 'Bluetooth' (e viva o guerreiro do Dente Azul!), vão surgindo, guardados num diretório escondido, raramente acessado.

Os textos exibidos à seguir são feitos desta matéria-prima. As mesmas ideias, outrora dispersas, passam a acumular-se, a justapor-se, a serem um novo conjunto, heterogêneo e dinâmico, retratos e fragmentos de diferentes momentos, de uma vida cansativa, às vezes ingrata, mas nunca desprovida de seu devido valor.

Viagens, ideias e momentos que tão cedo não se acabam. Há muito ainda por vir, o tempo urge, mas a nosso favor.

Forte abraço!



(1-2-3, testando!) Sem preocupação!
NINGUÉM, seja dia, seja noite, deveria preocupar-se,
Pois é tempo de viver, de mover, de somar!


Quelque chose en Français...
C'EST la vie...
Je ne sais pas que écrire...


¡Vamos, José!
EN español,
Todo parece más bonito, más hermoso, ¿verdad?


(e agora valendo!) Inequívoco e inevitável
JAMAIS, seja dia, seja noite, tememos o mais, o melhor, o virtuoso, o verdadeiro.

Juntos, nunca conformados com o menos, com o ruim, com o mais ou menos, com o falso.

Inequívoco, ainda que as tentativas sejam muitas, o resultado chamado experiência, nos gratifica, nos melhora, nos aperfeiçoa.

Inevitável, pois por mais que busquemos tratados, fórmulas e algoritmos para descrevê-la, é na prática que realizamos tal simbiose.

Conciliados, vivemos razão e emoção, introspecção e explosão, mente e corpo em constante movimento, em equilíbrio dinâmico, energia cinética a fluir sem atritos, sem barreiras.

Combinados, somos a flor, que presenteia com seu perfume e aroma únicos e peculiares, aquele que a cultiva, o jardineiro, que a faz crescer e luzir como jamais se viu até então.

E a cada vez, a cada encontro, um pouco mais. Sempre mais. Muito mais.



(economia poética) Saudade pré-datada
SAUDADE pré-datada, nostalgia parcelada,
Incompletude à vista, solidão a prazo,
Distância cobra juros e correção monetária...

Ansiedade inadimplente busca acordo amigável,
Custo da imperfeição, benefício da dúvida,
Todo silêncio em baixa, cada lembrança em alta...



(um questionamento) Perguntei-me
UM dia me perguntei:
O que estou fazendo neste lugar?
Já não vi o bastante em tanto tempo de estrada?
O mesmo asfalto, a terra batida, o concreto?
Talvez não signifiquem mais o que antes eram...



(outro questionamento) Voltar aqui

E voltar aqui pra que?
Pra conferir se a escolha feita foi a mais adequada?
Pra saber se aquele que aqui ficou está (de fato) melhor do que outrora?





(fatalista, eu?) Inevitável

AINDA que inevitável, insisto em seguir igual,
Teimo em pensar que o tempo não passa,
Sinto-me incômodo, a mente confusa,

E o coração, como sempre, vacilante...




(nesta ou) Naquela noite...

DESEJEI que o momento não passasse tão depressa,
Esperei que o toque perdurasse por mais tempo,
Almejei que o beijo não cessasse (tão) de repente...



(epílogo) Ainda naquela noite...

A verdade é que estou em crise de abstinência de você...