sábado, 21 de fevereiro de 2009

[#71] [um poema folião] Meu Carnaval é de Cinzas

s4br 2009©
THE by night...
Atravesso a avenida, mas não vejo a Apoteose...

TEMPO em que sinto-me algo estranho, deslocado,
Pois se vivo o ano todo, a vida toda a sorrir,
Por que haveria, bem agora, de fazer diferente,
Já que contrariar é a regra, quando regra não há?

Feriado em que pareço bem mais sério, calado,
Pois se passo os dias, a cada dia como sendo único,
Por que teria, justo hoje, de ser de outro jeito,
Já que o irreal é o real, quando realidade não há?

Reinado de Momo, Baco tropical sem bagos, nem uvas,
Cercado, de fato, por rainhas e princesas efêmeras,
Cujos pés e passos não param, frenéticos, há horas,
Cobertas de prata, banhadas em suor, desejos e aplausos .

Início do fim de longa hibernação, letargia coletiva,
Marca, na prática, o começo de um ano já não inteiro,
De cumprir-se as promessas esquecidas há dois meses,
Vestidas de branco, regadas a licor, brindes e borbulhas.

Meu Carnaval é de Cinzas, do grito à quarta-feira derradeira,
Meu Ano Novo atrasado, há várias semanas parado, incerto e preguiçoso,
Pois não me basta estar palhaço, rei ou otimista só por três dias,
Quero rir, reinar e viver todos os dias, ser eu mesmo e mais ninguém!


4 comentários:

Anônimo disse...

Vai chegando o carnaval (Lê ai Faraó)

Há quatro e cinco anos, no auge de minha adolescência, a palavra carnaval era interpretada por minha mente como “o momento mágico, o nirvana da vida”. Axé, abadá, acarajé, cantina da serra, peitos, bundas, bocas, vômitos, gritos, mais bocas, mais bundas e mais vômito.

Ah, era tudo que eu podia querer. A perdição completa de um jovem torto. A rebeldia social e a explosão de hormônios sexuais e infantilóides.

Mas o tempo passou. E com ele, uma certa maturidade foi aflorando.

Olho hoje para aquele grupo de arruaceiros e pergunto-me como posso já ter gostado de estar ali presente. Ou pior, como podem pessoas que já passaram da idade da molecagem, esbaldarem-se como se fossem guiados por seus instintos de dezesseis anos.

Pra começar, uma analogia aplicada a 95% dos casos: o tamanho dos bíceps de um indivíduo é inversamente proporcional a sua capacidade intelectual. Quanto mais inchado, mais demente.

Não satisfeitos em passar uma imagem de ignorância e mongolice, esse tipo de cidadão ainda precisa gritar ao mundo que seus bíceps são grandes. Então, mesmo chovendo e com frio, ele tira a camisa e enrola no punho, em uma clara manifestação boçal de que, além de forte, ele é perigoso.

Não preciso dizer que existem mulheres, tão tapadas quanto, que baseadas em sua máxima insegurança e desejo de parecer mais do que realmente são para a sociedade, atracam-se com este tipo de laia. Merecem-se, logicamente. Dois tipos que necessitam de anos de terapia.

Mas tudo bem, você ignora os zé bostolas e suas piriguetis e cai na “folia”. E é nesse momento que você descobre a necessidade de tomar 3 litros de cantina da serra em meia hora.

A música é praticamente um conjunto de onomatopéias.
“MÃE BÊ MÃE BÊ MÃE BÁ, MÃE BÊ MÃE BÊ MÃE BÁ, MÃE BÊ MÃE BÊ MÃE BÁ”
“ZUM ZUM ZUM… ZUM ZUM BABA, ZUM ZUM BABA, ZUM ZUM BABA”
“CHIIIIIIIIIIIIIICLEEEEEETE! OBA, OBA!”
“O, o, o, ooo, que terrô! O, o, o, ooo, na dança do vampirô!”

Você olha para os lados e percebe que os zé bostolas invadiram o ambiente e estão pulando de um lado para o outro, te arrastando, aquele suor pegajoso que mais parece uma manteiga raspando no seu braço e costas. A multidão toma conta de tudo, você não tem como fugir, o jeito é pular e fingir que aquela música faz algum sentido.

Pula, gira, grita, solta grunhidos (afinal não tem como CANTAR esse tipo de música), pega uma mulherzinha aqui, outra ali, mas continua pulando, girando, gritando e soltando grunhidos.

Calor, suor, fedor, música ruim, multidão te empurrando, claustrofobia, bebidas nojentas, mulheres perdidas e vazias, e eles, sempre eles, os zé bostolas, que dentro de vinte minutos cairão na porrada graças a um pisão no pé.
Afinal, vamos combinar, dentro de toda essa explosão de movimentos e pessoas se encostando, pisar no pé de um zé bostola é proibido! Ele morde, santa.

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Essa é a análise final que tenho do carnaval. Uma visão de quem já viveu e respirou estes ares, mas fugiu assim que o discernimento e a razão chegaram à tona.

Neste carnaval, saia para tomar um chopp com os amigos. Converse, divirta-se, ria, fique com uma mulher por mais de duas horas. Garanto que, no final, você se sentirá muito melhor.

A menos, é claro, que você seja um zé bostola.

Neste caso… Desculpe por ter pisado no seu pé.

Milford Maia disse...

Lido e compreendido, Faraó!

Diferentes maneiras de expor opiniões. Opiniões quiçá similares, congruentes, porém positivamente diferentes.

Agradeço a visita, volte sempre!

Raphael R Barbosa disse...

Concordo, Master Milford.

Adoro o feriado do carnaval, como qualquer feriado em que podemos descansar e sair com amigos.

Não suporto as músicas com letras sem consoantes (aê aê aê ê ê ê ô ô ô ô) e sem sentido (zum zum zum zunzum bába), pra não falar da "bundalização" das letras.

Aliás, nem são músicas, mas um baticum ritmado para uma lobotomia coletiva. Ao final, para que os zumbis recém-criados com a hipnose rítmica, as letras vazias e as altas doses de álcool e lança-perfume não fiquem letárgicos, cantam músicas de adestramento humano (na perspicaz definição de Trebor Basques, que me contaste): "Esquerda, esquerda, esquerda. Direita, direita, direita. Em cima, em cima, em cima. Descendo, descendo, descendo".

Mascaram o carnaval de "patrimônio cultural" e o defendem com enorme garra. Infelizmente, patrimônios culturais de verdade são esquecidos, desprezados e abandonados. É o caso da obra de Machado de Assis, de Carlos Drummond e tantos outros. Dá-se o mesmo com "O Guarani", "Sinfonia da Paulicéia" e Tom Jobim.

Meu carnaval ideal é o que eu faço sempre: descanso, saída com amigos e - sempre que possível - beijar uma só mulher os 4 dias. Porque beijar é muito mais que tocar lábios e enroscar línguas: é algo de coração. Algo que zumbis não têm.

Milford Maia disse...

Muito bem lembrado, caro amigo Rapha,

Esta é mais uma das imposições de pseudo-cultura, pseudo-tradições e pseudo-arte, vindas do poder central, sorrateiro e formador de ignorantes.

E o pior, não são somente nos 4 dias como zumbi, mas também nos demais 361!

Por favor, isto não!

Quero arcar com a imensa responsabilidade de viver minha própria estória.

Buscar a plenitude o ano todo, sem medos, rancores ou mágoas.

Forte abraço!